As reservas cambiais dos países que são grandes exportadores de petróleo caíram para o seu nível mais baixo em uma década, num momento em que os baixos preços da commodity obrigaram muitos países a canibalizar seus estoques de reserva internacional.
O declínio das reservas evidencia a crescente perda de poder e influência de alguns dos principais petropaíses do mundo e quão pouco tempo eles têm para diversificar as suas economias, antes que seus amortecedores financeiros desapareçam.
No fim de 2016, 13 grandes exportadores de energia tinham reservas combinadas de US$ 967 bilhões, segundo o Fundo Monetário Internacional, bem abaixo do pico de US$ 1,26 trilhão atingido no final de 2013 e o menor valor desde 2006.
As reservas cambiais na Venezuela, que está lutando contra uma inflação desenfreada e escassez de alimentos, caíram 90% de seu pico em 2008, enquanto as reservas líbias, no país devastado por uma guerra civil, caíram 45% desde seu pico em 2012. As reservas estão em 41% abaixo de seu pico de 2013 na Argélia; 38% na Nigéria, 35% na Rússia e 30% em Angola desde os seus picos de 2012; 29% no Catar (2014) e 22% no Cazaquistão (2010).
Alguns países do Golfo Pérsico, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Kuait, tiveram declínios muito menores, graças ao retorno de seus investimentos e a menores déficits orçamentários. Mas as suas reservas internacionais poderão sofrer mais pressões se o preço do petróleo continuar em cerca de US$ 45 por barril, em comparação com os níveis de US$ 100 ou mais em 2008 e entre 2011 e 2014.
"A US$ 45, acredito que as reservas continuarão a cair", afirmou Charles Robertson, economista-chefe da Renaissance Capital, um banco de investimento com sede em Moscou e focado em mercados emergentes.
John Sfakianakis, diretor de pesquisa econômica no Gulf Research Center, um centro de estudos saudita, disse: "As tentativas dos principais países exportadores de petróleo de controlar as despesas e elevar as receitas não petrolíferas" também foram um ponto crítico na projeção de que as reservas deverão continuar a encolher.
O colapso das receitas governamentais e o aumento das despesas públicas ampliaram os déficits orçamentários de muitos países exportadores de petróleo. O déficit de Brunei atingiu 21,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, chegou a 17,7% no Bahrein; 16,9% na Arábia Saudita; e 14,6% na Venezuela.
Jason Tuvey, economista na Capital Economics especializado em Oriente Médio, mostra-se confiante em que a Arábia Saudita, o Qatar e os Emirados Árabes Unidos ainda dispõem de reservas internacionais suficientes para ampará-los enquanto diversificam as suas economias.
Ele disse que o declínio nas reservas está "começando a diminuir", e acrescenta: "A Arábia Saudita, em especial, praticou muita austeridade nos últimos dois anos" para reduzir o ritmo em que está queimando a sua pilha de dinheiro. Mas ele expressou a preocupação de que países do Golfo com menos recursos, como Omã e Bahrein, poderão acabar necessitando ser socorridos por vizinhos mais ricos para proteger suas âncoras cambiais em relação ao dólar.
Sfakianakis disse recear que a Argélia, com um déficit orçamentário de 11,6% do PIB no ano passado, está "bastante atrasada" no desenvolvimento de sua economia não petrolífera, restando ao país apenas mais dois a três anos para fazer isso ou sofrer "graves consequências".
Fonte: Valor Econômico
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